Medos, sonhos, sentimentos e sentidos alerta.
Doçuras, travessuras, bons humores, irritações. Aqui todo o meu mundo fica guardado.
Um pouco do que sou. Ou do que não sou.
Medos, sonhos, sentimentos e sentidos alerta.
Doçuras, travessuras, bons humores, irritações. Aqui todo o meu mundo fica guardado.
Um pouco do que sou. Ou do que não sou.
Sei que no momento em que fechar os meus olhos, surgirás mudo a olhar para mim.
Nos sonhos mais inesperados, mais inocentes, mesmo, vejo-te nalgum canto, calado a observar o que provavelmente não verias acordado.
De início procurava-te, mas a resposta era sempre um virar de costas calado.
Agora que procuro ignorar-te pareces satisfeito, surgindo por entre as acções dos meus devaneios nocturnos. Ficas ali, a olhar, sem interferir. Sem me dares a tua voz. Numa atenção de cinema de quem assiste um filme porque nada mais há para fazer.
Não quero dormir.
Agora que te foste dos meus dias, saldas as minhas dividas assumindo um papel voyeurista nos meus sonhos.
Não vou dormir.
Se foi o fim dos nossos dias, que seja das noites também.
Imagens, palavras, sentimentos que não são devidamente compreendidos, ou talvez expressos.
Como numa imagem filtrada por um vidro adulterado, ainda não estilhaçado, não nos deixa compreender os matizados que se espalham lá fora.
As cores misturam-se, as formas distorcem-se, as palavras perdem-se em significados imprecisos.
Pensamos que aquela é a imagem real, criamos crenças desgastadas, mas acima de tudo, perdemos a beleza da imagem real (ou imaginada?) que se estende lá fora.
Procuro significados no impreciso, convencida que posso distorcer a própria distorção.
Por vezes vamos concentrados no nosso caminho, submersos nos nossos pensares, preocupados em chegar ao nosso destino.
De repente alguém nos chama a atenção, necessitando de uma ajuda, uma palavra.
Num instante avaliamos as hipóteses: ignoro o outro, e não me atraso, ou paro, perco tempo a olhar pelo outro e, certamente, vou perder algo dos objectivos que tinha.
Ontem escolhi parar.
Nesse compasso em que o caminho ficou à espera, houve uma mudança na atenção. E gradualmente fui descobrindo pequenos tesouros: o brilho do rio ao sol da tarde, uma borboleta azul sobre as flores.
Por um momento, um breve e precioso momento, redescobri dentro de mim um recanto escondido da tão procurada paz. De sossego.
Tudo terminado voltei ao caminho, acelerada a tentar recuperar algo do tempo de desvio.
Com a esperança de ter recuperado essa paz há tanto tempo ansiada.