Em que toda a luta, esforço, princípios parecem inglórios.
Venho de uma família repleta de gente batalhadora, fiel ao que acredita. E que curiosamente não sai da cepa torta.
Como se na defesa da liberdade, dos direitos e deveres de uma sociedade humana e digna nos esquecessemos de lutar por nós.
O esforço está lá, procuramos atingir os nossos objectivos, mas há sempre uma volta da vida (do destino?) que nos faz voltar à estaca zero, nos interrompe o que parecia, finalmente, bem encaminhado.
E aí, paramos e pensamos em todas as escolhas que fizemos, para chegar à conclusão que, provavelmente, devíamos ter ido por outro lado.
São dias, meses, de sofrimento entre a dúvida de tentar continuar o caminho em frente ou mudar, mais uma vez, o rumo. Procuramos sinais, pequenas respostas que nos dêem alento para continuar caminho.
Até ao dia em que nos convencemos que o melhor é simplesmente parar.
E aceitar que provavelmente o limbo onde estamos é o lugar onde pertencemos e onde devemos permanecer.
Mesmo que não nos agrade.
Nesse momento abandonamos a luta, com o coração partido de quem abandona a sua essência.
Quando pequenos ansiamos por crescer. Ser independentes, viver a nossa vida ao nosso jeito. Sermos adultos, seja isso o que for.
Ingénuos, idealizamos uma série de situações. Algumas quase que alcançamos, outras nem ficamos perto.
Há medida que os anos passam, vem a aceitação de que ser adulto é, em vários aspectos, muito diferentes do que imaginávamos.
As obrigações, as preocupações, a necessidade de abandonar alguns sonhos. Mas também uma imensidão de vantagens a contrabalançar as desvantagens.
Mas, para mim, há uma desvantagem de crescer que tenho muita dificuldade em balancear. As despedidas impostas pelo tempo; aqueles que nos partem, deixando um vazio, que vai crescendo a cada despedida.
Inevitavelmente, até ao dia em que terminam as despedidas.
Quando tiveres saudades minhas, por favor, não me procures.
Não conseguirei tolerar um retorno ao passado.
Não é que já não te queira, ou que nada mais possa existir, mas sinto o cansaço, o desgaste da desesperança.
O colorido do cabelo vai desaparecendo, dando lugar a tonalidades negro/cinza, na mesma proporção que a crença em melhores tempos para nós se mescla de desistência no que houve de nós.
Não me arrependo do que foi, nem, repito, estou desiludida ou zangada. Mas o cansaço de remar contra tempestades leva-me a pousar os remos e a declarar basta!
Também já não peço tréguas às intempéries. Aceito-as como inevitáveis a uma vida que nunca se fez rosa.
Ao contrário do que proclamam, o que não nos mata nem sempre nos faz mais fortes. Por vezes, mata-nos em parcelas. Lentamente. Roubando-nos até as incertezas.
Por agora, resta-me a saudade dum tempo que se quis longo mas se fez breve.