Creio ser a primeira vez na minha vida em que entro num novo ano com consciência de estar a viver, verdadeiramente, uma época de mudança.
Sinto áreas da minha vida em pleno ponto de viragem, e outras em total ponto morto. Talvez a mudança nas primeiras abanem as segundas.
Vários acontecimentos, de múltiplas matizes emocionais, se deram nos últimos doze meses. Mudanças impostas, oportunidades agarradas, pequenas e grandes alterações ao quotidiano. Novos amigos, perda de antigos. Aproximações e distanciamentos.
O novo ano traz promessas, medos, seguranças numas áreas, inseguranças em muitas mais.
Para já, vou vivendo cada transição procurando estar consciente e sem criar excessivas expectativas. De certa forma, uma defesa contra desilusões.
Sei que há uma forte probabilidade de as grandes tristezas que se têm feito anunciar se efectivarem. Tento contrabalançar procurando no ar indícios de alegrias inesperadas para compensar e que sei andarem por aí. Pois a vida é feita de passos de equilibrista num arame - ora balançamos para um lado, ora para outro.
Para já espero: encontrar dentro de mim a energia, a força e a vontade para ser gentil nas mudanças e nas continuidades, comigo e com os outros; ser capaz de manter a cabeça fresca, o sorriso no coração e os amigos por perto; partilhar(-me) mais com os que me são essenciais e com os que ainda não o são; Acima de tudo, espero conseguir saborear cada dia com todo o arco-íris emocional que me trouxer.
Resta-me desejar um bom ano a todos: conhecidos, desconhecidos, amigos, desamigos, quase amigos e afins. Que 2019 nos traga aprendizagens, emoções e cumprir de objectivos; que seja cortês quando nos apresentar os inevitáveis dias mais difíceis.
Para cada um de vós um abraço, um beijo, ou um simples aceno. Deixo ao gosto de cada um.
Dizem que quem já não vive entre nós, vive em nós.
Mas frequentemente o viver em nós não chega. Torna-se um fraco consolo.
São dias, simbólicos ou não, que, repletos de memórias, nos atingem em cheio, um autêntico murro no estômago.
Por vezes essas memórias vêm de pequeninas e instantâneas coisas: um aroma, uma canção, um objecto.
Outras vezes são dias inteiros de coração apertado por algum evento que se deveria estar a celebrar, ou pelo reencontro com o vazio.
Nessas alturas ouvimos aquelas frases magníficas, como o que não nos mata torna-nos mais fortes. E que só têm o condão de nos fazer sentir mal na nossa pseudo-fraqueza de sentir aquela dor imensa.
Na verdade, a vida segue sempre. Parte de nós é que não.
Um típico sábado de dezembro, rico de preguiça, momentos de lazer e reflexão.
Oscilando entre o ano que termina e o que se aproxima.
Entre as decisões a tomar para que o que aí vem seja realmente a expressão do meu eu profundo, e o medo de estar a apontar na direcção errada. Mais uma vez.
Dezembro tem este efeito em mim: uma espécie de encerramento simbólico, amargo e doce. Expectante por vezes. Algo que os anos não pagam.
Guardo os últimos treze dias deste mes para um ritual. Em cada dia dedico-me a um mês, escrevo os sonhos, as despedidas, os reencontros, os sentires lembrados. Até ao 12o dia, mês a mês. No 13o passo da avaliação retrospectiva para a acção prospectiva, e inicio a preparação do novo ano. Sem promessas nem compromissos de ano novo, apenas com o coração à flor da pele, a inteligência embebida em emoção, preparo-me para o que aí vem. Sem pretensão a controlar o futuro.
Apenas a busca do equilibrio das energias para mais 365 dias.