Há dias como noites, em que o céu nublado torna difusa a luz do sol.
Todo o colorido, à nossa volta, surge desbotado, pardo, num silêncio pouco sacro, que incomoda.
São dias lentos, que se perdem nos vagares do quotidiano.
Indiferentes a tudo isso, apenas as árvores, para quem as nossas sombras internas nada contam.
Estes são dias que, bem aproveitados, nos dão muito.
A ausência do brilho lá fora faz olhar noutra direcção, se com sorte, para dentro.
Disse-me alguém, que nesses vagares de dia cinzento, sol pálido, tímido de amarelo, as cores estão lá, brilhantes como sempre, nós é que as estamos a ver com os olhos errados.
Basta pegar num pincel e com a imaginação colorir a paisagem com pinceladas de sentimentos, amores e desamores.
Inagina: todo um mundo pintado de algum eu para outro tu, numa tela imaginada, a contar histórias por viver, e que um de nós idealizou. Um quadro de brilhos, de ilusões sonhadas que, um dia, serão cenário para um outro par de nós.
Numa tentativa de apaziguamento vim até à praia, em busca da tranquilidade que me foge.
A praia tem pouca gente, algumas crianças felizes pela ilusão de normalidade que a praia dá.
A minha companhia, na sua alegria dos 9 anos, tira-me do retiro dos meus pensamentos: vamos à água?
Acedo. Talvez o tal apaziguamento esteja à beira mar.
Não resulta. Penso nos locais que já visitei e que me deram essa paz que agora me falta: ponta de São Lourenço; lagoa do fogo. Fecho os olhos ao pálido sol.
A minha pequena companheira salta feliz e recordo-me há 40 anos, nesta mesma praia. Estranho como lembro os sonhos de então. Estranho como tantos ficaram pelo caminho.
Aqui há tempos perguntei a uma amiga como era possível que a minha vida parecesse uma sucessão de decisões erradas. Sabiamente respondeu-me que era uma sucessão de decisões que fizeram de mim a pessoa que sou hoje. É verdade. Talvez não tenham sido assim tão erradas.
Mas, hoje, o frio interno não se esbate. Há decisões que fazem isso. Perdas conscientes.
Decido-me por um mergulho. Assim fica frio por fora como por dentro. Pode ser que sinta menos