O céu cinzento sobre as árvores faz esquecer que o Verão está quase aí.
A chuva, modorrenta, traz consigo as cores e os cheiros de Setembro.
Será possível que o tempo esteja para enganos?
Meteorologias e pandemias já nos levaram a Primavera, e ameaçam agora o Verão.
Tenho saudades de andar à vontade, sem máscaras que escondem sorrisos.
Sentir o cheiro dos outros, rir, conversar sem um ecrã pelo meio.
Dar um beijo ou abraço sem receios.
Ter um Verão sem Outono dentro.
publicado às 01:05
Despeço-me do sonho que sou, num instante de realidade.
Meço argumentos e troco pensamentos, numa espécie de balança improvisada.
A noite vai avançada, e traz-me a clareza e sobriedade de sentires que, por vezes, o dia me rouba.
Não mais.
Despeço-me de ambiguidades, de cartas fechadas, do futuro.
Para já só a dádiva do momento, o sorriso do que sente, a generosidade da dúvida.
Amanhã será, de novo, presente.
publicado às 01:46
O vento que não pára.
O dia todo este som, as árvores agitadas, quase tão agitadas quanto eu.
A noite, o corpo cansado, mas a mente sem dar tréguas, de mãos dadas com o vento, a agitar, a insistir, a recuar, por instantes, fazendo acreditar que finalmente o sono vem aí.
Mas o vento continua e com ele bailam os meus pensamentos. Quem, como, quando. Tudo se baralha, em frases soltas, de quem desespera pelo sonho ou o retorno do sossego.
Entre fantasia e realidade, sonho e sono.
A esperança de perceber a verdade, de estar a ver bem a realidade e viver, de novo, a vida.
E o vento, lá fora, que não pára.
publicado às 01:51
A intensidade dos dias move a forma como os vivemos. Ou os desejamos.
Intensas as paixões enquanto perduraram; os amores retribuídos, ou não.
Intensos seriam os beijos que não foram dados, à espera do momento,
como a palavra não dita, porque não era o seu tempo.
Intenso o meu sorriso, quando leio as tuas palavras,
ou a minha alegria quando nos reencontrámos.
Intensas, ou pelo menos cheias de intenção as palavras que te dirijo,
escritas pela razão, ditadas pelo coração.
Intenso o meu passado, as minhas despedidas, mas que me trouxeram à intensidade deste dia.
E quanto ao futuro? Esperemos, trabalhemos.
Criemos os momentos, até que se deixem de medir intensidades e se possam amar realidades.
E intenso será, então, o voo dos dias, carregados de emoção.
publicado às 22:18
Mergulhar no mar,
Sentir o sal no corpo, a arder nos olhos.
O prazer de nadar um mar suave, fresco, que me renova corpo e sentidos.
Ir um pouco mais além, sentir o vogar das ondas,
O corpo mole a deixar-se levar, balançar, entre o que sou e o que quero.
O mar embala os sentidos, deixa-me mais atenta ao que desejo.
Desperta emoções esquecidas, recupera sonhos, lembra…
Acorda-me a realidade, o regresso à areia.
O secar do corpo, lento ao sol, na companhia dos pensamentos.
Perdida dos sonhos? Perdida na realidade.
Mas o mar que ficou em mim, talvez perdure no tempo.
E com ele a lembrança do sonho.
Quem sabe um dia o sonho deixe de o ser.
publicado às 22:24
Lembra-me campos cheios de flores,
Jardins coloridos, plenos de aromas.
Os sentidos despertos pela profusão de estímulo,
A razão inebriada, anestesiada, tornada benevolente, sorri, complacente, em alegre cumplicidade.
Rosas com espinhos; singelas plantas campestres; azedas tornadas doces pelo tempero de frágeis papoulas vermelhas.
Tudo isto me ocorre, enquanto o sangue me corre nas veias, num súbito movimento delicado, um bater de asas de borboleta, que me acorda para o sonho.
Será primavera, verão, inverno? O tempo não conta, apenas os aromas, a cor e a poesia.
publicado às 18:50
Adoro deambular pela cidade, fazendo de caminhos velhos algo novo.
Percorrer caminhos, solta de destino certo, vogando ao sabor da vontade e libertando os pensamentos a cada passo percorrido.
Preferencialmente de noite, quando o silêncio impera e poucas são as almas que se cruzam com a minha.
Os sentidos alerta, dão pistas para as vias a percorrer.
São deambulações orquestradas por um diálogo interno, em que procuro as respostas que o dia não dá.
Se as encontro, não sei. Mas sei que algo de novo pode surgir numa esquina, seja da rua, na memória, num encontro.
Sei que, por vezes, é aí que me reencontro, e que deixo que os meus passos me conduzam até ti.
publicado às 23:02