Confissão
Em noite escura, ausente de lua, confesso, sem qualquer pudor: amei-te um dia.
Amei-te entre as cores das flores que brotavam, e a luz resplandecente da lua cheia.
Amei-te por tudo o que eras e aquilo em que me tornavas.
Sem as ilusões dos sentidos, senti-nos um, num enlace profundo de um sonho irrepetível.
Mas, como em todos os sonhos, também neste irrompeu a madrugada. E num momento de lucidez percebi o fim da primavera.
Hoje, procuro as cores que surgem na nova estação. Também são belas, impregnadas de aromas antigos.
Deitada, numa noite sem luar, o corpo pede descanso, mas a memória traz aromas antigos enquanto o coração pergunta: quem irei amar agora?
Do sonho improvável de ontem, nasce a esperança de um novo amar.
Até lá evoco no corpo as sensações dos velhos sonhos e das recordações de outrora, enquanto me preparo para voltar a adormecer.