Esperança
Entro naquela fase do ano em que o trabalho abranda.
Relatórios escritos e enviados, agora é deitar mão ao que estava em espera e me dá imenso gosto fazer.
A manhã, passada em casa, como quase todas desde o início desta maldita pandemia, foi aproveitada para afazeres domésticos.
Terminados, voltei ao quarto para o arrumar. Num acesso de regresso à adolescência, deitei-me em cima da cama, a olhar o céu nublado.
Dentro de mim há, hoje, algo que não defino. Um misto de zanga, nostalgia, desorientação e, estranhamente, muita calma. Contraditório. Como é contraditório em mim não me apetecer sorrir.
Penso nas férias que já não vão ser. A recordação da mensagem recebida - "lamentamos, mas afinal a casa já não está disponível. Iremos proceder à devolução do sinal" - quando já não há possibilidade de marcar para outro lado, também não ajuda.
Precisava de mudar de ares. Ver algo novo.
Fecho os olhos e recuso pensar. O vento entra pelo quarto, depositando suavemente o cortinado sobre mim. Deixo-me ficar até que o cortinado foge de novo, levando consigo parte da zanga, da indefinição e trazendo uma ameaça de um sorriso.
Logo se vê. Algo há de surgir que faça com que este verão valha a pena. Vamos esperar e ver.