Frio
Hoje tenho um frio que não me deixa sossegar.
Não é frio de tempo, é frio de dentro.
Numa tentativa de apaziguamento vim até à praia, em busca da tranquilidade que me foge.
A praia tem pouca gente, algumas crianças felizes pela ilusão de normalidade que a praia dá.
A minha companhia, na sua alegria dos 9 anos, tira-me do retiro dos meus pensamentos: vamos à água?
Acedo. Talvez o tal apaziguamento esteja à beira mar.
Não resulta. Penso nos locais que já visitei e que me deram essa paz que agora me falta: ponta de São Lourenço; lagoa do fogo. Fecho os olhos ao pálido sol.
A minha pequena companheira salta feliz e recordo-me há 40 anos, nesta mesma praia. Estranho como lembro os sonhos de então. Estranho como tantos ficaram pelo caminho.
Aqui há tempos perguntei a uma amiga como era possível que a minha vida parecesse uma sucessão de decisões erradas. Sabiamente respondeu-me que era uma sucessão de decisões que fizeram de mim a pessoa que sou hoje. É verdade. Talvez não tenham sido assim tão erradas.
Mas, hoje, o frio interno não se esbate. Há decisões que fazem isso. Perdas conscientes.
Decido-me por um mergulho. Assim fica frio por fora como por dentro. Pode ser que sinta menos