Heranças
Na minha adolescência, o meu pai tinha um hábito que me irritava solenemente:
Sempre que estava zangado comigo, não falava; olhava para mim e começava a assobiar.
Tirava-me do sério!
Achava que seria muito mais prático e honesto chegar ao pé de mim e dizer abertamente o que pensava.
É que nem sequer assobiava bem!
Gradualmente fui aprendendo a ignorar o seu assobio.
E a não discutir o que me aborrece, com quem me aborrece.
Já a minha mãe funcionava por acúmulo:
Deixava passar, ia enchendo o copo da paciência, até ao dia D.
Nesse dia havia uma explosão dramática. O que estava longe do meu agrado.
E assim aprendi a funcionar.
Por um lado não assumir emoções; por outro fugir a sete pés de dramatismos.
E vou dando comigo a passar ao lado de uma série de coisas que gostaria de ter vivido,
Explodindo de tempos a tempos em dramáticas assobiadelas para o lado.