Paixão dos 40
Nos meus 40, assolou-me uma paixão irresistível,imensa.
Não com a imensidão dos campos, tranquilos e suaves.
Com a imensidão do mar profundo;
ora intempestivo, furioso, escuro e assustador,
parecia que me ia engolir e fazer desaparecer num turbilhão incontrolável;
ora suave e brilhante, que me embalava e devolvia à vida.
No entanto - porque será que há sempre nestas histórias um entanto?
No entanto, a alma do meu mar imenso estava tomada por um nó
que me impedia o acesso.
A chave, creio, estava na minha mão, mas a fechadura bloqueada
por um compromisso, que não era o meu.
Libertei-o do meu sentir. Mas não a mim.
Não guardo rancor, mas um imenso carinho, que me leva a ler a sua alma
de tempos a tempos.
Não sei se é feliz (temo sempre que seja a minha vaidade a tentar ler o que poderá não estar lá).
Mas sei que eu não sou.
Hoje, dia de festa, é dia de elevar os copos em brindes alegres.
Sinto que me falta a peça essencial ao meu festejo pessoal.
Mas sigo, deixando para trás o sonho quimérico de o conquistar.